Fonte: Por Joaquim Oliveira | Fotos Gonçalo Martins | 10/06/2013
O mercado brasileiro anda carente de pequenos esportivos. Nos últimos anos, bastava colocar num carro rodas de liga leve, apliques vermelhos no interior e adesivos GT ou SS na carroceria para oferecê-lo como esportivo. Mas essa realidade pode mudar quando Peugeot e Ford confirmarem que venderão por aqui seus compactos em versões nervosas de verdade. Fontes dentro da marca francesa dão como certo que o 208 GTI será lançado aqui neste ano - não sabe ainda se ele será importado (aí teria o motor europeu de 200 cv) ou nacional, com o mesmo 1.6 de 165 cv do 308 THP. Já o Fiesta ST está nos planos da Ford, dependendo do desempenho das vendas do compacto que passou a ser produzido no Brasil. Para tentar adiantar como seria esse tira-teima de hot hatches, fomos à França para dirigi-los pelas estradas da região de Nice.
À primeira vista, nota-se logo que eles são até que discretos para uma versão apimentada. É verdade que neles há mais cromados e entradas de ar maiores que no modelo de entrada, além de aerofólios no teto, duplas saídas de escape num difusor traseiro, grade de radiador com padrão próprio e rodas maiores (aro 17), com pinças de freio vermelhas. Por dentro, proliferam apliques metálicos, forrações de banco exclusivas, costuras vermelhas, pedais de alumínio com pontos de borracha para dar mais aderência e uma ou outra inserção de material de acabamento brilhante, além de vários detalhes em vermelho vivo.
Entre as principais diferenças, encontramos o revestimento suave ao tato e de melhor qualidade que cobre toda a parte superior do painel do Fiesta (no 208, a maioria dele é rígido), o volante muito pequeno do Peugeot com a parte inferior achatada e o monitor sensível ao toque por onde se controlam todas as informações do veículo e os recursos multimídia do 208 GTI. Com 5 cm a menos de diâmetro que no volante do Ford, o hatch francês mostra- se muito agradável de dirigir em cidade, mas isso não desculpa o fato de ele obstruir a visão de boa parte dos instrumentos na maioria das regulagens.
No espaço interno, há um grande equilíbrio entre os dois carros. Ambos podem acomodar cinco pessoas, ainda que a viagem seja muito mais confortável com quatro. No entanto, o Fiesta ST trata melhor o terceiro passageiro traseiro por apresentar assoalho com um túnel no piso de 37 cm de largura, ante 45 cm no túnel do Peugeot, enquanto o francês dispõe de porta-malas um pouco mais amplo (285 contra 276 litros).
As soluções técnicas para os motores são bem parecidas: 1,6 litro, turbo e injeção direta, que resultam em desempenho empolgante, mais ainda no 208 GTi, que supera o rival com seus 200 cv (contra 182 do ST) e 28 mkgf (24,5 no Fiesta). Vale lembrar que a Ford diz que seu motor EcoBoost tem uma função que eleva a potência a 200 cv e o torque a 29,6 mkgf por 20 segundos - o suficiente para uma ultrapassagem. Porém, com ou sem overboost no Fiesta, o 208 GTI impõe-se pelas acelerações mais rápidas (0 a 100 km/h de 6,8 segundos, ante 6,9 do ST) e por sua velocidade máxima maior (230 contra 220 km/h), em boa parte graças à resposta enérgica do motor desde os giros mais baixos (nele o torque máximo chega a 1700 rpm, mas no Ford parece que só desperta aos 1900 giros). Ambos trazem câmbios manuais de seis marchas parecidos no funcionamento: bem rápidos e precisos, além de silenciosos.
Para que o chassi do 208 GTI pudesse lidar bem com o novo 1.6 turbo, trocaram os triângulos inferiores da suspensão, reforçaram os amortecedores, montaram barras estabilizadoras 10% mais espesssa à frente e 50% atrás, retocaram o subchassi dianteiro e alargaram as bitolas (10 mm à frente e 20 mm atrás), ao mesmo tempo que rebaixaram a suspensão em 8 mm, comparado a um 208 comum.
Já o ST conta com suspensão rebaixada em 15 mm, molas e amortecedores com afinações mais secas e barra de torção mais rígida unindo as rodas traseiras (na verdade, o eixo traseiro tem o dobro da rigidez do dianteiro). Ao lado do sistema de controle de torque (uma extensão do controle de estabilidade que bloqueia a roda interior à curva quando ela perde aderência), todas essas alterações são decisivas para dar ao Fiesta ST um comportamento muito próximo do de um esportivo com tração no eixo de trás, ou seja, com nítida tendência para soltar a traseira na entrada e no meio da curva.
É um tipo de condução bem mais divertida e fácil de controlar, totalmente diferente do Peugeot - este é intencionalmente muito mais neutro, porém no limite é um pouco sobresterçante, ou seja, com tendência a sair de frente.
Se a essas diferentes personalidades juntamos a direção bem mais direta do Ford (2,3 contra 2,9 voltas entre os batentes) e um pouco mais comunicativa, fica claro que ele recupera aqui com folga a leve vantagem do 208 nos números de desempenho. O Ford também é superior nos freios, que são mais borrachudos no 208 GTI e ainda têm o incômodo de acionar a luz de frenagem de emergência (pisca-alerta automático) cedo demais. O ST volta a agradar ao ter três modos de controle de estabilidade - On, Sport (o sistema demora mais para entrar em ação) e Off -, enquanto no Peugeot ou está ligado ou desligado.
O consumo de combustível também é semelhante em ambos e durante o test-drive fizemos médias na casa de 11,8 km/l, mais realistas que os 16,9 anunciados pelas fábricas. O preço também não ajuda a diferenciá-los, já que o Fiesta ST é 950 euros mais barato, porém o 208 GTI vem mais equipado de série, o que os equipara no fim das contas. O que fica evidente mesmo é que os dois são tão parelhos que fica difícil dizer qual é melhor. Mas o comportamento mais divertido em estrada sinuosa e a direção mais comunicativa com o asfalto, fundamentais para o prazer de dirigir um esportivo, acabam dando a vitória - apertadíssima - ao Fiesta. Mas lembrese: em qualquer um você está bem servido. Que sejam bem-vindos os esportivos de verdade.
VEREDICTO
Se fosse numa corrida, a vitória do Fiesta seria por um para-choque, pois ele e o 208 são muito equilibrados. Mas o prazer de dirigir superior do Ford foi decisivo neste tira-teima.